Cooperativas lideram investimentos com recursos financiados.

  O cooperativismo do Paraná é o que mais se industrializa no Brasil – e também o que mais acessa os recursos públicos destinados para investimentos, revelam dados do setor. A expansão da agroindústria nacional vem se apoiando nas linhas de financiamento público. Essa tendência ocorre de forma mais acen­tua­da no estado, que vem absorvendo praticamente metade dos empréstimos nacionais. Do total de R$ 1,1 bilhão que as cooperativas paranaenses estão investindo em 2011, em torno de 80% são recursos obtidos via linhas de crédito, informa o Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Oce­­par). O acesso a financiamentos é fundamental para que as cooperativas do estado al­cancem um grau de investimentos um terço maior que a média nacional, de acordo com o doutor em Econo­­mia Agrí­­cola Eugênio Stefanello. Dos recursos liberados pelo Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária (Prodecoop), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre 45% e 50% têm sido destinados às cooperativas paranaenses, conforme levantamento da Ocepar. O Prodecoop financia investimentos que permitem às cooperativas brasileiras industrializarem a matéria-prima de sua produção agrícola. Em 2004, as cooperativas paranaenses, segundo a Ocepar, obtiveram em torno de R$ 225 milhões do Prodecoop – metade dos R$ 450 milhões destinados pelo BNDES ao programa. Ano passado, o Prodecoop desembolsou R$ 1,4 bilhão, dos quais 45% – ou R$ 630 milhões – foram absorvidos pelas cooperativas do Paraná. Um crescimento de 2,8 vezes, em seis anos. O acesso a créditos como o do Prodecoop é o que tem permitido às cooperativas impulsionarem a industrialização de produtos da atividade primária, avalia o especialista Válter Bianchini, ex-secretário da Agricultura Fa­­miliar do Ministério da Agricul­tu­­ra (2003-2006) e ex-secretário de Agricultura do Paraná (2007-2010). “O Paraná é uma potência na agricultura, mas não só por ser líder na produção de grãos. O que chama a atenção é o potencial da agroindústria, principalmente das cooperativas”, aponta o agrônomo. Stefanello, professor de agronegócio na Universidade Federal do Paraná (UFPR), enaltece a taxa de investimentos das cooperativas paranaenses, que é de 3% do faturamento de R$ 30 bilhões previsto para 2011. Esse porcentual, assinala, está 30% acima do verificado entre cooperativas de outros estados. No entanto, po­­de­­ria ser cinco vezes maior, chegando a 15%. Apesar da ampliação do crédito nos últimos anos, Stefanello considera que é fundamental uma maior diversificação das linhas de financiamento em relação às atuais, para se caminhar rumo “à taxa de crescimento ideal”. “O BNDES tem hoje o Prodecoop, mas é preciso mais linhas de crédito para investimentos de médio e longo prazo.” Cascas de pinus viram substrato em Telêmaco Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa As indústrias de madeira concentradas em Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, são exemplo de como uma cadeia agroindustrial pode se desdobrar. Pratica­­mente tudo se aproveita das ár­­vores colhidas nos 230 mil hectares de florestas da Klabin. A produção abastece 70 indústrias (do total de 100) instaladas no distrito industrial do município. Elas fabricam de móveis a substrato orgânico. A fábrica de substrato Mec­­prec é uma das empresas satélites. Instalada em 1997, compra as cascas de pinus para produzir substrato. O produto é usado no cultivo de tabaco. “O substrato garante o suporte da planta e, dependendo do cliente, nós definimos a granulação do produto”, explica a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Mecprec, Silvia Leite de Campos. A fábrica tem 86 funcionários e capacidade de produção de até 80 mil toneladas anuais de substrato. “Hoje aproveitamos 90% dos produtos da madeira”, estima o chefe da Divisão de Desenvolvi­mento Econômico da prefeitura, Josemir Zanetti. Um dos produtos que ainda não tem finalidade é a casca do eucalipto. A árvore, no entanto, é utilizada para a fa­­bricação de móveis e até de violino. Uma parceria com a Universi­dade Estadual de Londrina (UEL), lançada há um mês, promete orien­­tar os empresários a agregar mais valor à produção. As cerca de 70 empresas que pertencem à cadeia da madeira em Te­­lêmaco Borba geram perto de 4,2 mil empregos. Um dos desafios do setor é a qualificação dos trabalhadores. Duas escolas técnicas estão em funcionamento no município. Fonte: Site; Jornal Gazeta do Povo, (22/11/2011).